sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

DE MALAS PRONTAS

O que há do outro lado? É possível atravessar?...
Embora de formas diferentes, essas perguntas habitavam a mente de grande parte dos que viviam naquele pequeno povoado chamado “Nosso lugar”, localizado na fronteira do “País de origem”. Pode ser que algumas pessoas tenham deixado as perguntas guardadas - por preferência ou desconhecimento - em gavetas nunca abertas. Ou, ainda, que elas tenham sido adormecidas por circunstâncias diversas, até que fosse possível retomá-las e despertá-las. Mas, ainda assim, o importante é que, em algum momento, essas duas questões nasceram e deixaram suas marcas na vida de cada um daquele povoado.
Um pequeno grupo de jovens amigos, no entanto, preferia cultivar essas perguntas a cada encontro, sempre nas melhores hortas da imaginação de cada um. Respeito, Coragem, Medo, Acerto, Erro e Gentileza se conheceram na escola, ainda na infância. Eram um sexteto inseparável. As famílias sempre foram amigas e, essa proximidade, fez com que os laços de afeição surgissem entre os filhos de maneira espontânea e genuína.
Certo dia, o sonho compartilhado pelos seis, e alimentado por aquelas duas perguntas de que já falamos, se tornou irresistível. O ponta-pé de que os amigos precisavam foi dado em uma tarde de domingo, em que eles andavam pela região que separava “ País de Origem” de “Próxima Nação”. Uma ponte longa e fina, feita de madeira e corda, dividia e unia os dois lugares. Embaixo dela, um grande vale.
Não havia qualquer barreira impedindo a passagem e a travessia. Só uma pequena e velha placa onde se lia em tinta gasta “Cuidado. Perigo.” Apesar da falta de impedimento, ninguém se arriscava. A área estava sempre deserta e talvez isso conferisse a ela ares melancólicos ou mais ameaçadores do que de fato possuía. Era estranho pensar na falta de uso da ponte. Afinal, se ela havia sido construída, alguém já tinha compartilhado daquele mesmo sonho de atravessar. Alguém já tinha feito aquilo antes. A ponte não estava ali por acaso.
Talvez tenha sido esse o raciocínio que fez os seis amigos decidirem pela tentativa de chegar ao outro lado. Precisaram de algum tempo pra se preparar: essa etapa durou três meses e foi feita em silêncio. No dia da partida, cada família recebeu apenas um pequeno, mas completo bilhete: “Fui buscar o meu sonho. Amo vocês!”
Na hora marcada lá estavam eles, os seis, diante da pequena entrada da ponte. Eles sabiam que não seria simples atravessar. Temiam que a velha estrutura de madeira não aguentasse. Traziam mochilas pesadas, com corda, roupas, comida. Não sabiam ao certo do que precisariam e nem quanto tempo levariam para cruzar aquele longo caminho e explorar a “Próxima Nação”.
- Como faremos? Quem vai primeiro? – perguntou Gentileza.
- Eu vou! - Respondeu Coragem. - Não é tão difícil assim…
- Tem certeza? Da última vez que você disse isso voltou pra casa com o braço quebrado! – A memória de Erro chegava a ser desagradável, de tão pontual e infalível. Às vezes irritava a insistência que ele tinha em lembrar.
- Tenho. – Retrucou Coragem, sem se abater pelas lembranças do amigo.
E assim foi ela, uma adolescente jovem e corpulenta, vistosa, com os cabelos lisos e claros que escorriam pelas costas até a cintura. Era dona de uma pele morena-avermelhada e de um sorriso largo e alinhado.
Coragem segurou as cordas que formavam uma espécie de corrimão ao longo da estreita ponte e, ágil e ávida por se aventurar, como era, se pôs a caminhar. Rápido demais. As cordas entrelaçadas na madeira fixavam o material, mas não deixavam a estrutura rígida o suficiente.
Era preciso força e cautela para manter o equilíbrio. Coragem se desequilibrou e por pouco não caiu. Voltou ao encontro dos amigos na entrada na ponte, sob as já esperadas gozações de Erro:
- Eu sabia que não ia dar certo!
- Por que não vai você então? Vá na frente e nos mostre como é! – Desafiou Coragem, enquanto Erro ria, sentado no chão.
- Medo?! Você acha que pode tentar agora? – perguntou Gentileza
- Não vou conseguir – respondeu Medo em completo pânico.
- Eu quero tentar de novo! – Disse Coragem. – Mas preciso de alguns minutos pra me recuperar do susto. Medo, não caminhe tão rápido como eu fiz. Vá! Você consegue!
Medo se dirigiu à entrada da ponte. Era visível o esforço que ele estava fazendo para estar ali. Mas era um sonho. Ele precisava tentar.
Medo era um menino tímido e cabisbaixo. Falava pouco, nunca se metia em discussões ou disputas na escola. Alguns o tratavam como uma pessoa covarde. Não era. Ele apenas ainda não tinha descoberto do que era capaz.
Medo se posicionou na frente da ponte, agarrando firme as cordas dos dois lados. Também tinha uma corda amarrada na cintura e em poder dos amigos Gentileza e Respeito, para caso ele precisasse. Mas Medo não saiu do lugar, simplesmente porque não conseguia olhar pra frente.
- Medo, você sabe que pode atravessar. Basta olhar pra frente e ir devagar, no seu tempo. – Incentivou Acerto.
- Não, eu não posso. Não sou bom nessas coisas. Vocês sabem… Desculpem, mas eu não posso. Vocês podem prosseguir sem mim.
E ele voltou. Momentaneamente derrotado pela força enorme de uma palavra tão pequena: “não”.
- Quem vai tentar agora? – Perguntou Gentileza.
Foi então que Respeito, que até então ouvia e observava tudo em silêncio, resolveu se manifestar. Ele era um homem simples, pacífico, cativante. Sempre com um sorriso no rosto, era impossível não gostar dele.
- Acho que precisamos rever a nossa estratégia!
- Acha que devemos desistir? - Indagou Acerto completamente desapontado. Ele ainda não tinha tido a própria tentativa. Queria fazê-lo! Queria atravessar!
- Não estou falando em desistir, mas acho que, desse jeito, estamos perdendo o nosso propósito.
- Você pode explicar um pouco melhor? – pediu Gentileza
- A ideia não era fazermos isso juntos? Esse não é um sonho de um, mas de seis. De que adianta chegarmos ao outro lado se alguém de nós ficar pra trás?
Os seis amigos se entreolharam e isso bastou para reconhecerem que alguma peça estava fora do lugar. E eles sabiam o que era:
- E se atravessarmos todos ao mesmo tempo? – Eles disseram quase que em uníssono, com os olhos se iluminando, como quem faz uma descoberta.
- Isso! – Exclamou Respeito afirmativamente. - Alguém tem alguma sugestão sobre como fazer?
- Pelas nossas experiências anteriores, sugiro que o Respeito vá na frente, abrindo caminho. – Sugeriu Acerto. – Todos concordam?
- Eu posso vir em seguida, de mãos dadas com o medo. – Disse Coragem.
- Eu concordo – Respondeu Medo.
- Erro?! – Chamou o Acerto. – Você acha que consegue me carregar nas costas? Assim podemos garantir uma visão geral do grupo e antecipar possíveis problemas.
- Perfeitamente. – Respondeu Erro.
- E, se vocês não se importarem, posso me revezar ocupando lugares variados entre vocês. Acerto, procure me abastecer de informações porque, assim, caso alguém precise de ajuda, eu estarei pronta a colaborar. – Pediu Gentileza.
E assim foram os seis. Respeito, Coragem, Medo, Erro, Acerto e Gentileza. Nos ombros do Erro, o Acerto ganhara um brilho novo. Ao contrário do Erro - uma figura forte e marcante - o Acerto era delicado e simples. Gostava de se planejar, era metódico, alegre. Andava sempre com o Erro, seu melhor amigo e, juntos, podiam exercitar a melhor versão de cada um. Gentileza era uma mulher rara: doce, amigável, esperançosa. Vendo assim, de longe, ninguém dava muito crédito a ela: magrinha e esguia, os amigos sempre brincavam que ela cabia em qualquer lugar. E acho que cabia mesmo!
Não podemos dizer que a travessia foi fácil. Não foi. Mas, juntos, eles conseguiram. E, só isso, já era muito. Também juntos eles puderam aprender a ler o “País de Origem” com novos olhos e descobrir que a “Próxima Nação” podia ser linda ou não: isso dependia mais deles próprios do que de qualquer outra pessoa. Lindo, mesmo, era o prazer de descobrir! E ele fez tudo valer a pena!
Criei essa pequena história, como uma metáfora para a minha viagem que, gentilmente, vocês se dispuseram a acompanhar. Com quantas pontes nos confrontamos ao longo da vida? São tantas, ? Às vezes as encaramos de forma tão complicada, quando tudo o que temos que fazer é atravessá-las, olhando pra frente e sempre buscando uma parceria entre o respeito, a coragem, o medo, o acerto, o erro e a gentileza. Talvez os seis não possam mesmo viver sozinhos. Coragem sem medo é inconsequência. Acerto sem erro é, provavelmente, estar sempre estagnado, repetindo as mesma coisas, sem poder ir pra frente e experimentar o delicioso sabor do que é novo. Viver e, principalmente, conviver, e não respeitar, é não ser capaz de se sensibilizar, de se emocionar, de se rever, de compartilhar. E a gentileza?... Tão simples, tão modesta, mas tão clara, tão generosa, tão maravilhosa…
Há dois meses, escrevi um post com o mesmo título que dei pra este: “De Malas Prontas”. Só que, agora, tenho uma bagagem mais pesada, não só de "bugigangas" (hehehehe), mas de tudo o que eu vi, senti, toquei, ouvi, aprendi. Por tudo isso, sou uma pessoa diferente também, modificada pela primeira tentativa bem sucedida de descobrir o que está do outro lado, além da velha ponte de madeira. Ponte que eu ainda quero atravessar muitas vezes.
A cada um dos que acompanharam essa minha pequena aventura, obrigada pelo carinho, interesse e disponibilidade. Que tal um comentário pra que eu possa guardar de lembrança?
Aos que estão no blog pela primeira vez, sejam bem vindos e voltem sempre!
Agora, meus amigos, tenho o prazer de dizer que estou voltando pra CASA!!!
Saudades, Brasil!!!

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

sábado, 20 de fevereiro de 2010

INTERCÂMBIO VALE A PENA?

A viagem está chegando ao fim... Foram muitos passeios, muitas risadas, muito estudo, muito aprendizado e, finalmente, depois de mais de 60 dias fora de casa, podemos responder a pergunta mais importante: Intercâmbio vale a pena?
Seguramente, essa foi uma das melhores experiências da minha vida. Intercâmbio vale muito a pena e, não só é a maneira mais interessante e eficiente de aprender ou melhorar uma língua estrangeira, como uma oportunidade bacana de repensar algumas coisas, nos testarmos em novas situações, nos conhecermos melhor. Nos últimos posts, falamos sobre algumas dúvidas que povoam a cabeça e o coração do intercambista, e que podem ajudar quem pretende viajar. Claro, não há receitas nem respostas prontas pra nada. O seu caminho, na sua viagem, é você quem vai construir. No entanto, lembre-se sempre de que você é a visita. É você quem tem que se adaptar ao país, à família, à escola; e não o contrário. Use seu bom senso. Sempre. Tem certas coisas que não são regra, mas sinal de respeito.
Durante o tempo em que estou aqui, vi muitos jovens "em fuga", procurando no intercâmbio a oportunidade de fazerem o que quiser longe dos "olhos" dos pais: beber muito, namorar muito, sair todo dia, quebrar todas as regras. A minha opinião sobre isso - e não é lição de moral ou nada parecido, mas só uma opinião - é a de que, se você não tem liberdade no seu país, é porque você não sabe o que fazer com ela. Liberdade a gente conquista. E, quando a gente consegue, ela não dura apenas um intercâmbio. Mas, ainda assim, pra quem está em fuga - dos pais, de si, ou seja lá de quem for - vai um lembrete: você está vindo pra um país onde a lei existe. Se você quiser ser louco, ok. Mas não seja burro!
E aproveite. Curta cada segundo, porque é único, é maravilhoso, passa rápido e você vai querer voltar!... Como eu quero.

AOS QUE VIRÃO - PARTE 2

Hoje continuaremos a responder algumas perguntas que podem ajudar quem pretende fazer intercâmbio, principalmente se for aqui em Toronto. Se você está chegando agora no blog, já conversamos um pouco sobre isso em um post chamado "Aos que virão - parte 1". Algumas pessoas que também já moraram fora do Brasil deram suas contribuições comentando e falando de suas próprias experiências. Vale a pena conferir.

10 -Qual a melhor maneira de levar dinheiro pro exterior? Se você tiver dinheiro em mãos pra comprar dólares, você deve fazer um Visa Travel Money. O nome na verdade é "cash passport" e a Visa não me pagou pra eu fazer propaganda dela aqui...heheheh... Mas é a bandeira mais aceita aqui no Canadá e nos EUA. Por isso você deve optar por ela. Não é melhor levar um cartão de crédito internacional? Não, porque os impostos que você paga para utilizá-lo são maiores e você fica completamente vulnerável à flutuação do dólar. É interessante trazer um cartão de crédito mas deixá-lo reservado para emergências e para compras maiores, que você não queira pagar à vista. O Travel Money funciona como um cartão de débito em moeda estrangeira. Se você preferir, pode sacar dinheiro em qualquer caixa eletrônico que tenha a bandeira "Plus". Mas, se for fazer isso, não saque pequenas quantidades porque esse tipo de movimentação tem custo (ao redor de $2,00). Esse cartão é recarregável e você pode acompanhar suas transações pela internet. Onde faço o cartão? Em casas de câmbio. É interessante comprar dólares no mercado legal, porque você recebe nota de tudo o que está comprando e, caso a alfândega questione se você tem dinheiro pra entrar no país, basta apresentar esses recibos. Então, não saia do Brasil carregando tufos de dinheiro: é perigoso e desnecessário.

Uma coisa importante, é pesquisar bastante antes de comprar moeda estrangeira, porque há muita diferença de um lugar por outro. Às vezes os bancos oferecem preços menores, mas cobram algumas taxas de compra altas e estão menos propícios à negociação do que as casas de câmbio. E, se você está vindo pro Canadá, lembre-se de encomendar seu dinheiro com dois ou três dias de antecedência porque, geralmente, o dólar canadense não existe de pronta-entrega.

11-Como devo me deslocar em Toronto? O metrô é o melhor meio de transporte em Toronto e corta a cidade de norte a sul (linha amarela) e de leste a oeste (linha verde). Quando chegar, compre um "metropass" imediatamente. O custo é de $99,00 para estudantes e de $121,00 para quem não se enquadra em nenhum programa de desconto. Com esse passe, você tem direito a usar toda a rede de transporte público da cidade, quantas vezes por dia for necessário. Ao entrar no ônibus, basta apresentar o cartão ao motorista. Sem o cartão, o custo é $3,00 a cada deslocamento. Se você vai ficar menos de um mês em Toronto, pode optar pelo passe semanal, cujo custo é de $36,00 ou de $28,00 para estudantes.

12-É verdade que os ônibus passam de 3 em 3 minutos porque as pessoas congelam se ficarem expostas ao frio por mais tempo? Não. Os horários variam conforme a linha, mas a média é de 10 minutos entre um ônibus e outro. Não é agradável ficar no frio esperando mas, se vocês estiver com roupas adequadas, não há o menor perigo de você congelar em tão pouco tempo.

13- Como devo lidar com o frio? -10 graus soa mais assustador do que realmente é. Até -15, o nosso corpo lida bem com a baixa temperatura. Manter os pés aquecidos é, provavelmente, o que há de mais importante. Recebi essa dica de uma amiga (Valeu, Dani!) e, assim que cheguei, comprei uma bota adequada para neve. É um investimento que vale a pena fazer. Não no Brasil, logicamente, mas assim que você chegar aqui: é muito mais barato e as opções são inúmeras.

Agora, uma lista de passeios interessantes em Toronto e arredores:

-Royal Ontario Museum
-CN Tower
-Casa Loma
-Bata Shoe Museum
-Art Gallery of Ontario
-Niagara Falls
-French Canada (Montreal, Ottawa, Quebec)
-Zoo
-Vaughan Mills (para compras)
-Skiing
-Parliament Building
-Ontario Science Centre

Alguns desses passeios são organizados pela própria escola. Os que são fora da cidada, como Niagara, Sky, French Canadá, são feitos por agências de turismo. Em China Town os preços são sempre mais baratos mas, eu, particularmente, acho que não vale a pena. O acompanhamento do guia é muito útil nessas atividades em que o tempo é curto e há muitas coisas pra conhecer. Então, uma pessoa falando chinês ao invés de inglês significa empobrecer o seu passeio em termos de informações.

Se você deseja saber mais sobre algum desses tópicos de que falamos, ou se tem dúvidas de outra natureza, entre em contato. Se você é intercambista, já foi ou vai ser, participe comentando, fazendo críticas e sugestões e ajudando a enriquecer esse post. Se você não quer fazer intercâmbio, mas gosta ou odeia esse blog, comente também!

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

HAPPY BIRTHDAY!


Fazer aniversário fora de casa, longe do colinho e do abraço quente daqueles que nós amamos não é, a princípio, lá muito bom. Hoje, estou passando por essa experiência aqui em Toronto: 24 anos. Puts! Quase um quarto de século!... É a idade chegando! heheheh
Mas o dia 18 de Fevereiro de 2010, que começou sem grandes expectativas, me reservou bonitas surpresas e, confesso, vai terminar com um gostinho especial de quem pôde festejar e experimentar o carinho das pessoas de uma maneira nova.
Tem um frase, de que eu gosto muito (acho que de uma música do Caetano Veloso), que diz que "cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é...". Hoje me lembrei muito dela ao pensar sobre como as pessoas experimentam o amor, o carinho ou qualquer sentimento que seja, de maneira diferente mas, nem por isso, menos tocante, menos digna, menos significativa. Achei bonito a maneira que a Sofia, minha host mother, encontrou de me fazer "importante" nesse dia de hoje e de me dizer que eu vou deixar alguma marquinha aqui quando eu for embora.
Logo no café da manhã, quando entrei na cozinha, no pacote em que estava meu almoço havia também um guardanapo, estampado com um sorriso e o desejo de um feliz aniversário. À tarde, quando cheguei em casa, Sofia me deu um abraço tímido, daqueles em que os corpos quase não se encontram, disse que eu sou uma garota especial e que cozinharia spaghetti no jantar, porque, na China, é o desejo de que nossa vida seja longa, assim como cada um dos fios da massa. Após o jantar, uma surpresa: um bolo, com meu nome - aqui no Canadá as pessoas só me chamam de Maria. Em casa, sou a Maria B, de Brasil, porque há uma outra Maria, da Venezuela. E também ganhei um cartão, com uma mensagem de cada uma das pessoas que mora comigo: agora somos 8! Ontem chegou mais uma, vinda da Guatemala.
Ao voltar pro meu quarto, outra pequena grata surpresa: Hiroko, que chegou há apenas uma semana do Japão e que é uma doçura de pessoa, bateu na minha porta com um sorriso tímido e um inglês igualmente acanhado, me trazendo presentes de aniversário. Me emocionei. Meu aniversário estava completo. Não tive vontade de comparar. Não precisei fazer sentenças condicionais do tipo "se eu estivesse no Brasil, meu aniversário...", porque tudo o que importou no dia de hoje é que eu pude ver que cada um estava fazendo o melhor que podia naquele momento para me aquecer e fazer o meu aniversário mais alegre.
Do Brasil também vieram palavras especiais. Mãe, pai, , tia, namorado, amigos amados da EMC2, Carolzinha, Dindo e Dinda, Renato. Obrigada por terem feito o carinho de vocês chegar até mim. Chegou, e me aqueceu: hoje o frio de Toronto não foi nada!

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

"I DON'T SPEAK ENGLISH"


Confesso que para hoje estava previsto um outro post, no qual eu pretendia continuar respondendo algumas perguntas importantes na vida de quem pretende fazer intercâmbio. Mas, ao chegar na escola, fui surpreendida por uma história realmente irresistível. Então, o post "Aos que virão - parte 2" será o nosso próximo, ok?. Nele trataremos de questões fundamentais, como dinheiro e transporte, além de passeios interessantes.

Bom, vamos aos fatos. Imaginem vocês um brasileiro de 26 anos que deixou o país de origem sem falar absolutamente NADA de inglês. Como vocês podem supor, só a viagem de vinda dessa criatura até Toronto rende um livro: sim, ele desembarcou no Canadá praticamente um profissional da mímica... Se não encrencaram com ele na imigração? Claro que não... Simplesmente "entregaram pra Deus" e deixaram ele entrar. Não adiantava perguntar nada mesmo...hehehehe. Foi, então, que, percebendo o tamanho da missão que estava por vir - pois o viajante ficará seis meses em Toronto, Deus achou melhor designar o melhor Anjo da Guarda disponível no céu naquele momento para acompanhar o cara. E o Anjo não brincou em serviço. Mandou o protegido para a mesma host family em que estava a Carol (sim, ela mesma... A nossa famosa personagem aqui do blog). Foi a salvação naquele primeiro momento. Logicamente, a regra número um de só se falar inglês dentro da casa foi quebrada logo no começo, porque nem a Carol nem os membros da família eram bons de mímica, e a necessidade de fazer o recém-chegado sobreviver falou mais alto... Reparem no uso do verbo "ser" no passado, no trecho "eram bons de mímica". Terá a família melhorado suas habilidades com a comunicação através de sinais? Não, meus caros leitores. Como vocês sabem, Carolzinha já fez o seu brilhante retorno (narrado aqui no blog) a terras brasileiras. Já a família, continua não sabendo mímica, mas não é mais a host family do protagonista de hoje. Por que não? Porque ele conseguiu ser expulso da casa, após apenas duas semanas de estadia!!! Não é incrível? O que ele fez? Convidou, por duas vezes, garotas "achadas" na boate para passar a madrugada com ele na homestay!!!... O que aconteceu após a aceitação do convite vocês podem imaginar sozinhos...hehehehe... Não tem Anjo da Guarda que aguente o tranco!

Ok. O garoto foi chamado na escola e enviado a uma nova casa na última sexta-feira. E, claro, a história não termina aqui. Na noite de sábado, ele foi pra balada, mas a boate não estava boa. Então, por volta de 2h30, ele deixou o local pra voltar pro novo lar. Ops!!!! O lar era novo!!! Sim, meus amigos, ele esqueceu o endereço!(?). Pegou um ônibus, pegou outro, mas a mesma questão o acompanhava: onde devo descer? Nesse momento, exausto que estava devido aos acontecimentos anteriores, o Anjo da Guarda dormia profundamente em uma nuvem macia do céu e, realmente, não pôde ajudar. Então, sem saber o nome de sua rua, nosso viajante rodou seis horas de ônibus. Ele conheceu toda a cidade de Toronto, de uma ponta a outra, algumas vezes, até ser convidado a se retirar o veículo. Durante esse tempo, ficou encolhido na cadeira do ônibus sem muito o que fazer, já que o motorista também não era bom de mímica e muito menos de adivinhação: sem o endereço, era impossível ajudar...

Lembro aos queridos leitores, que estamos no inverno e que a temperatura durante a madrugada é de cerca de -10 graus. Por mais que se encolhesse dentro do ônibus, o frio tomou conta e os dedos do nosso amigo começaram a congelar e a colar uns nos outros. Quando amanheceu o dia, e o metrô - e o Anjo da Guarda - voltaram a trabalhar, finalmente foi possível encontrar o caminho de casa. Ao chegar, ele ainda precisou enfrentar uma missão cabelereiro, durante a qual usou um secador de cabelo para descongelar o dedo mindinho e desgrudá-lo dos outros. Para alívio absoluto do Anjo da Guarda, o protegido dormiu durante todo o Domingo para se recuperar da aventura.

Sim, essa é uma história verídica e o personagem de hoje se chama Renato (foto): um dos maiores caras-de-pau que eu conheço mas, também, dono de uma coragem admirável.

Espero que tenham se divertido tanto quanto eu.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

AOS QUE VIRÃO

Em duas semanas deixo Toronto para voltar ao Brasil. Embora ainda tenha muita coisa pra acontecer e alguns passeios previstos, já é possível começar a responder algumas questões sobre a experiência do intercâmbio. Assim, não só satisfazemos a curiosidade da família e dos amigos sobre algumas questões-chave em viagens como essa, mas também, e principalmente, clareamos alguns pontos para quem pretende viajar.
1-Toronto é uma boa cidade para se fazer intercâmbio? Depende. Se você tem um nível de inglês básico ou não sabe nada da língua, não é um bom lugar. Por que? Porque Toronto tem um índice de imigração altíssimo. Você encontra aqui pessoas de todas as partes do mundo. Consequentemente, a gente ouve, o tempo todo, um inglês com muito sotaque e, não raramente, errado gramaticalmente, o que não é uma boa para quem está aprendendo. Por que isso acontece? A maior parte das pessoas que imigrou aprendeu a língua no uso, fora da escola. E existe um complicador: aqui, na escola fundamental, o ensino de gramática foi abolido. Ou seja, os próprios canadenses têm dificuldade com o uso padrão da língua. Uma pesquisa feita em uma universidade de Toronto mostrou que 40% dos estudantes de ensino superior não sabiam como lidar com construções gramaticais básicas, quando questionados sobre elas. Ou seja, as pessoas simplesmente falam a língua sem se preocuparem se está correto ou não.
E se meu nível de inglês é intermediário ou avançado? Aí sim pode ser interessante, porque você será muito estimulado a melhorar as habilidades de audição. Na minha primeira semana aqui, parecia que as pessoas falavam grego e não inglês. Mas, com o tempo, a gente vai aprendendo a ouvir, o que é muito importante.

2-Escolher morar com host families é a garantia de vivenciar o modo de vida canadense? Definitivamente, não. A maior parte das famílias que recebe estudantes NÃO é canadense. E Toronto tem a particularidade de permitir que os imigrantes mantenham seus antigos hábitos trazidos do país de origem. A cidade é toda dividida em áreas, como a chinesa, a italiana, a grega etc.

3-Existe um padrão para a escolha das famílias? Por incrível que pareça, NÃO. É uma questão de sorte. Existem casas que fornecem toda a infraestrutura de estudo e bem-estar e são mais flexíveis com relação a horários, banho e refeições, por exemplo. Mas há casas, e não são poucas, onde não existe qualquer tipo de abertura ou preocupação com a qualidade do que é oferecido ao estudante. Onde eu vivo, por exemplo, tenho TV, internet, quarto aquecido, mesa de estudos, banheiro individual. Mas não foi assim com a maioria das pessoas que conheci aqui. Isso quer dizer que não existe nenhum controle? Não, porque na escola preenchemos dois formulários de avaliação das famílias: um quando entramos e um quando saímos. Mas realmente não dá pra entender o que é feito com essa ficha. Fato é que, embora todos paguem o mesmo preço, nem todos podem contar com a mesma infraestrutura, o que, obviamente, não é justo.

4-E a família? Por que ela recebe estudantes? Esse é o ponto de maior decepção da maioria das pessoas com as quais eu conversei. Geralmente os estudantes vêm animados com uma possível troca cultural, esperando passeios na companhia da família etc. Era o meu caso. Mas isso é a exceção e não a regra. Vi isso acontecer? Vi. Com duas pessoas, que foram para famílias canadenses (geralmente mais abertas a esse envolvimento). Mas, geralmente, esse tipo de interação não ocorre. A família recebe estudantes como uma forma de complementar sua renda. Tem a sua própria rotina e não se envolve com a nossa. O que a gente tem que entender, é que se trata de uma outra cultura, bem diferente da do Brasil. Quase sempre, a família não faz por mal ou indiferença, mas simplesmente porque faz parte de uma outra realidade, mais fechada.

5-E as refeições? Vale a pena pagar o pacote completo de três refeições por dia? Esse é um ponto muito complicado, porque cada família lida com a alimentação de maneira diferente. O que é preciso saber é que o almoço aqui não é a refeição principal, como no Brasil. Então, é muito comum que a gente receba pão com ovo, por exemplo, como almoço (aliás, ovo é palavra proibida pra mim durante um ano depois que eu voltar pro Brasil!). É interessante trazer um dinheiro à parte, já pensando em almoçar, porque realmente faz muita falta. Quanto? Uma média de 10 dólares por dia.

6-Toronto é uma cidade barata? Não. Uma das mais caras do Canadá. As taxas aqui são altíssimas. A título de comparação, uma souvenir que custa 2 dólares em NYC, por exemplo, custa pelo menos o dobro aqui, mais as taxas.

7- E Vancouver? É uma boa? Se você vai viajar em Dezembro ou Janeiro, não. Chove praticamente todos os dias, o que atrapalha muito se você pretende explorar a cidade.

8-Vale a pena fazer o curso intensivo de inglês (30 horas semanais)? Quando a gente está no Brasil tudo o que pensamos é em aproveitar ao máximo o tempo do intercâmbio pra aprender e melhorar a língua. Mas saiba que o processo de aquisição de um outro idioma não é simples para o nosso cérebro. No início, a gente fica muito cansado, tem muito sono e dor de cabeça. Então, 6 horas de aula por dia é uma carga bastante pesada. Ao escolher o programa, vale a pena combinar aulas mais cansativas, como a de gramática, com aulas mais leves, como as de comunicação ou cinema.

9- E a escola? A ILSC é excelente. Mas 60% dos alunos são brasileiros. Outros 20% são orientais e os 20% restantes são vindos de outros países. Esses números são oficiais, ok? Isso é ruim? Depende. Dentro da escola é expressamente proibido falar português e isso pode render suspensão. Fora dela, não vou mentir, a gente acaba falando. Mas, ao mesmo tempo, quando combinamos de só falar inglês, não existe pronúncia melhor que a do brasileiro. A dos orientais é medonha!!!! Então, preferi ficar na companhia dos brasileiros e ouvir um inglês limpo e correto, sem mutações genéticas! hehehehee.
Por hoje é só. Se você já foi intercambista ou vai ser, comente, discorde, concorde, dê sua sugestão. No próximo post, uma relação dos lugares imperdíveis de Toronto!

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

SOUVENIR

Como toda cidade, Toronto tem seus pontos positivos e negativos. Ou melhor, como são as pessoas que fazem a cidade, a responsabilidade é, principalmente, de quem vive aqui, temporariamente ou não. Às vezes fico extremamente irritada com a falta de cuidado dos cidadãos para com os bens comuns. O tempo todo vejo gente jogando lixo dentro do ônibus, dentro do metrô, cuspindo no chão das estações. Também me incomoda a falta de gentileza das pessoas: parece que cada um mora dentro de um pequeno casulo. Cada um carrega um livro ou um jornal e, quando não estão olhando pra eles, as pessoas olham para o chão. Como ninguém se encara, não olha nos olhos, as pessoas não percebem quando tem um idoso precisando de ajuda, ou quando uma criança não consegue se equilibrar sozinha dentro do metrô. Talvez sejam esses olhos "encasulados" que impedem que a gentileza se espalhe.
Mas Toronto tem suas belezas. E seus talentos. Alguns, emocionantes, como esse que eu filmei perto da minha escola. Foi uma tarde inteira de trabalho desse artista.
Gosto de observar a cidade e seus personagens. Me amedronta a possibilidade de as pessoas se tornarem invisíveis aos meus olhos. Gosto de capturar momentos, "pescar" reações, descobrir os talentos, os brilhos, os argumentos. Esse artista foi um presente na minha tarde monótona de sexta-feira. Fiz uma edição pequena e muito aquém do que ele merecia. Mas me falta habilidade com o software...

obs: a música é ambiente.


sábado, 6 de fevereiro de 2010

CASA LOMA

Era uma vez o Sr. Henry, um industrial e militar muito rico, que resolveu realizar o sonho de construir um castelo medieval no topo de uma colina, de onde seria possível uma vista geral da cidade de Toronto. Com mais de 300 homens trabalhando na construção, a obra começou em 1911 e durou 3 anos. Na época, custou $3.500.000,00. Mas o Sr. Henry e sua esposa, Lady Pellat, só moraram no castelo por 10 anos, até que problemas financeiros forçaram o abandono da propriedade. Biblioteca, sala de jantar, sala de fumar, sala de servir (para café da manhã e jantares íntimos), jardim de inverno, escritório, vários quartos de hóspede, sala de bilhar, duas torres, inúmeras passagens secretas, adega, piscina, sala de exercícios, estábulo, além dos quartos dos proprietários e dos aposentos dos 40 empregados da casa. Esses são alguns dos espaços desse castelo, cuja construção foi feita com o que tinha de mais moderno na época e cuja decoração contou com móveis vindos de vários países, já que Sr. Henry era um colecionador.

No banheiro do Sr. Henry (foto), uma curiosidade: o chuveiro foi construído para cercar completamente o corpo dele com sprays de água, que saíam de 3 níveis de tubulação.
Uma coisa interessante é que o casal possuía quartos separados... Será que era por isso que os casamentos duravam a vida inteira? (hehehe...brincadeirinha...)
Ao redor do castelo foi construído um jardim de mais de 24.000m², com inúmeras espécies de plantas. O Sr. Henry era um aficionado por jardinagem: ganhou vários prêmios por suas orquídeas e crisântemos.

Hoje a Casa Loma, nome dado ao castelo, é propriedade da Cidade de Toronto e um dos pontos turísticos mais famosos daqui. Nós fomos conferir!

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

PARA MORRER DE RIR...

Atenção para a conversa da Carol no MSN comigo, falando sobre a chegada no Brasil (não resisti e tive que transcrever um trecho):

"Luiza says:
E a alfândega?

Caroline says:
Entãooo..Você perdeu a cena! Até no aeroporto eu consigo pagar mico!Imaginee.... Eu estava com uma mala de mão maior que o permitido. Sentei no CHÃO do aeroporto, abri minhas 4 malas, contando com as de mão, e comecei a mudar tudo de lugar. MAS NÃO CABIAAA!! Conclusão, tirei 3 casacos gigantes da mala e vesti: praticamente um boneco de neve. Carreguei meu urso de pelúcia, toalha de rosto, 2 malas grandes, tudo na mão. E a outra mala que acabou ficando vazia, uma super boa por sinal, não coube em lugar nenhum. Tive que dar pra um cara lá... Eu ofereci e ele aceitou!"

Essa é a Carol...
Bem que eu suspeitava que a ela estava desafiando as leis da matéria: eram corpos demais querendo ocupar a mesma mala! Mas tudo acabou bem. As malas não explodiram e ela está no Brasil em segurança e, agora, derretendo de calor. Já aqui, ficaremos ao redor de -7 graus no fim de semana... Pelo menos isso significa que não vai nevar...



terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

VAI QUE É SUA, CAROL!

Na última sexta-feira nos despedimos de uma grande parte das pessoas que conhecemos nesse primeiro mês de intercâmbio... E foi muito estranho o nó na garganta que senti ao abraçar algumas delas porque, afinal, a gente se conheceu há muito pouco tempo. A Carol conversou comigo sobre a mesma sensação. Talvez esse sentimento de ligação tenha nascido assim, tão facilmente, porque nossos "amigos" brasileiros foram o primeiro porto seguro que encontramos aqui. Em um momento em que tudo era estranho, em que o idioma não era o nosso, a casa não era a nossa, a família não era a esperada, a escola era nova etc; ouvimos um sussurro familiar (sim, um sussurro, porque na escola é proibido falar português), corremos atrás dele e quem nos recebeu foi o jeito brasileiro de ser: um sorriso muito aberto no rosto e a disponibilidade para ajudar a resolver os problemas que pudessem aparecer...

Hoje, no entanto, o dia foi um pouco mais difícil pra mim: o último dia da Carol aqui. Então, decidi fazer esse post em homenagem a ela, que foi a minha companheira praticamente inseparável durante esse mês... Temos realmente muitas coisa em comum e, seguramente, a nossa convivência tornou a nossa estadia aqui mais divertida, mais interessante, mais rica. Encontramos na nossa amizade a oportunidade para dividir ideias, desejos, sensações, críticas, histórias, impressões. Foi muito bacana. E, logicamente, nosso último ato juntas aqui em Toronto foi o de devorar um crepe de nutella com morango e banana... Temos que honrar a fama, ?

Aos primeiros amigos de Toronto - Carol, Jeff, Andrew e Manu - o meu abraço. No meio de histórias e sonhos completamente diferentes, vindos de cada um de nós, essa cidade nos reservou um encontro e, seguramente, momentos memoráveis.
Carol, boa viagem e boa sorte na sua missão de fazer caber as compras na mala e, principalmente, na de entrar no país com todas elas.

PS: Preciso de notícias da Amanda (minha prima que estava em Vancouver). Como foi o acidente? Ela está bem?

Bjo a todos.