segunda-feira, 9 de novembro de 2009

CASO UNIBAN

Há pouco mais de uma semana eu e uma amiga (Raquel Camargo) demos um mini-curso em um congresso, em que discutimos redes sociais e seus desdobramentos na vida das pessoas, das empresas, das marcas. Selecionamos alguns cases que julgávamos interessantes e, um deles, no momento recém-nascido, era o da Uniban.
Colocamos o caso em discussão inicialmente com o propósito de que nossos alunos discutissem o posicionamento da Faculdade. Até o momento tínhamos o vídeo da garota sendo hostilizada nos corredores da escola e as publicações de alguns blogs em que o Secretário Geral da unidade em que ocorreu o caso se identificava como Tiba e entrava em contradição ao comentar o assunto.
Mas logo de imediato a discussão proposta no mini-curso extrapolou as redes sociais (a imprensa se pautou pelos blogs que, em primeira mão, comentaram o caso) e mergulhou no campo educacional. Primeiro, porque o vídeo mostrava um território sem lei. Nos perguntamos várias vezes sobre o tipo de relação mantida entre professores e alunos e entre diretoria e alunos na Uniban, para que dezenas de estudantes deixassem a sala de aula, filmassem, fotogravassem e gritassem em coro palavras de agressão contra a aluna ameaçada de estupro, sem que nada fosse feito para impedí-los. Também soou estranho que o responsável pela escola, designado para falar oficialmente em nome da instituição, se identificasse por um apelido: Tiba.
Ficou, portanto, evidente a falta de preparo da escola não só para lidar com a questão, mas para compreender sua própria função de instituição de ensino. E ficou difícil de imaginar, já naquele momento de discussão durante o mini-curso, a existência de um projeto pedagógico. A Uniban parecia mais um exemplo das faculdades que se tornaram meras máquinas de ganhar dinheiro.
O desenrolar da questão, no entanto, fez as coisas se tornarem ainda mais graves. Primeiro, a aluna expulsa. Em seguida, o questionamento do Ministério Público sobre o direito de defesa da estudante. E, então, a expulsão foi revogada...
Em momento nenhum penso que a discussão sobre o caso deve cair na rasura do argumento que condena os trajes usados pela aluna para ir à faculdade. Esse é um tópico que tem a ver com bom senso (ou a falta dele). Já o erro da faculdade e dos demais alunos, que berravam palavras de baixo calão no corredor, é de natureza ética e de direitos humanos. O que a Uniban parece estar fazendo? Simplesmente respondendo às expectativas que, de forma ingênua e atabalhoada, julga serem a da sociedade civil e a da imprensa. Ou seja, a Faculdade muda de rumo conforme sopra o vento. Nisso há um pequeno detalhe: a Uniban não vende banana, mas ensino. É a profissão das pessoas e a forma com que elas conduzirão suas carreiras que está em jogo.

Mais um capítulo da velha história sobre o ensino brasileiro. Enquanto permanecer a ideia de que a questão é numéria, ou seja, de que basta abrir faculdades em toda esquina, a qualidade vai continuar nos passando suas rasteiras...